Super Heróis: O Divino-Empregadinho

(Um conto de Gustavo Guilherme)


O rapaz caminhava temeroso na escuridão da noite.


Lírio tinha 18 anos, nunca tivera uma namorada e adorava quadrinhos. Criado pelos avós, estudioso e calado, Lírio conheceu a igreja quando completou seus 12, em plena puberdade, e durante o divórcio dos seus pais. 

Com o Pastor e irmãos da igreja, Lírio aprendeu rápido que existia alguém que lhe serviria para sempre - um super herói, cheio de poderes inigualáveis, totalmente ao seu dispor. Alguém que deveria atender todos os seus pedidos, lhe fazer prosperar, afastar todo mal de seu caminho, lhe fazer feliz, lhe arrumar uma namorada (e quando ouviu isso o rapazinho quase desmaiou de felicidade), lhe garantir uma boa faculdade, um bom emprego, uma família feliz, um carro na garagem e uma vida longa. Em troca de todo este conforto, Lírio deveria apenas seguir algumas regras, entregar algum dinheiro aos irmãos e ao pastor, ser freqüente nos cultos e ser integrante de alguma das muitas panelinhas existentes no ambiente eclesiástico.

No dia em que resolveu conhecer melhor este tal super herói, os seus líderes pouco lhe contaram. Mas Lírio, apesar de tímido, nunca deixaria de conhecer este novo herói - e que fique claro que quadrinhos eram sua paixão maior.

- Digam-me pelo menos o nome deste herói, e como devo invocá-lo para ter o que desejo - perguntou o rapaz.

- Err... - sem olhar nos olhos de Lírio, o pastor buscava uma resposta à altura - Rapaz, é difícil dizer. O tal super herói tem muitos nomes... mas, pelo menos por aqui, o nome pelo qual ele geralmente atende é Divino-Empregadinho - pegou uma caneta, anotou algo em um papel e entregou ao rapaz.

Lírio leu o conteúdo escrito no papel, engolindo as palavras como alguém faminto, que já não come há meses. Correu sorridente para casa, empurrou a porta com violência, tropeçou no irmão mais novo que brincava no corredor, entrou no quarto bagunçado e se jogou na cama. Abriu novamente o bilhete e o releu:

"Você saberá mais sobre ele na Bíblia, aquele livro preto que te dei outro dia. Mas não o leia muito, pode te deixar meio maluco. Assinado: Seu Pastor"

Lírio esticou o braço e alcançou a Bíblia na escrivaninha. Abriu o livro aleatoriamente e o leu durante horas sem parar - o suficiente para destruir o seu mundo. O Divino-Empregadinho era uma invenção. Ele não iria atender todos os seus pedidos, lhe fazer prosperar, afastar todo mal de seu caminho, lhe fazer feliz, lhe arrumar uma namorada (e quando leu isso o rapazinho quase desmaiou de tristeza), lhe garantir uma boa faculdade, um bom emprego, uma família feliz, um carro na garagem e uma vida longa... a única coisa que Lírio encontrou no velho livro semelhante com o que lhe fora apresentado foi a descrição clara de um homem comum, mas que podia curar pessoas. E a única coisa que este homem garantia era paz, segurança e amor incondicional.

Nesta hora, o menino deixou de ser criança - já não acreditava mais em super heróis. Lírio agora conhece o Herói dos heróis - mais que isso, o Senhor dos senhores.

Ainda hoje, caminhando pela rua imunda, na mais escura noite, Lírio ainda se lembra das palavras que mudaram o seu mundo. 

Paz. Segurança. Amor incondicional.



Conto escrito por GG, que volta a escrever ficções depois de 3 anos "longe da pena" e agradece ao Beto, que lhe disse o nome do rapaz.

19 comentários:

Abner Arrais 16 de abril de 2010 às 09:25  

Muuuuito bom GG.... Muito mesmo!!
#bjsmetwitta

Anônimo 16 de abril de 2010 às 09:36  

Muito bom GG!! Quase que tu me faz passar vergonha aqui no trabalho! rsrsrs

Belo texto! Eu costumo dizer...


- Meus heróis não morreram de overdose... Morreram decapitados, apedrejados, queimados, crucificado...


Mais uma vez, parabéns...

nEle

Anônimo 16 de abril de 2010 às 09:42  
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo 16 de abril de 2010 às 09:43  

Caramba... rsrsrs

Eu pensei que um dos comentários havia "desaparecido" misteriosamente! E ré-escrevi...

Mais, tá valendo... rsrsrs

nEle

GG 16 de abril de 2010 às 09:47  

porele,

Passar vergonhra por que, cara? rsrs

Iracroft 16 de abril de 2010 às 10:01  

Muito bom GG... tu sabe o quanto curto teus textos no blog...

Rick Serrat 16 de abril de 2010 às 10:06  

Não é que esse gordo escreve conto, escreve poema e tudo mais...

SHOW DE BOLA! gostei, depois vc faz um conto sobre minha vida. BJO ME ATENDE!(O CELULAR)

Anônimo 16 de abril de 2010 às 10:20  

Só para não ficar sem resposta aqui também...

Cara, eu ando meio emotivo... Ai completa-se a equação:


Cara Emotivo + Texto que te traz recordações = Choro no trabalho = Vergonha!


Sacou?

nEle

Michelle Suellyn Mota 16 de abril de 2010 às 10:31  

muito bom, Deus abençoe!

@RozanaCorrea 16 de abril de 2010 às 10:45  

Parabéns pelo texto! Gostei muito!
Sempre que posso dou uma passadinha no seu blog...=D
Fica na Paz amado!

Julião 16 de abril de 2010 às 11:10  

Demais!

Kely 16 de abril de 2010 às 11:57  

GG... Amei! E o melhor de tudo, vc conseguiu nos ambientar na vida do grande Lírio com exatas palavras sem ser prolixo. Amei, quero mais.... Rola um conto com uma mulher tb? Talvez Margarida? Petúnia? Rosa? rsrsrsrsrs Aguardamos ansiosamente o próximo. E que venham mais idéias/inspirações pro GG!!!!!!!!!!!!!!

Celso 16 de abril de 2010 às 11:59  

Poxa, muito legal....

Evang_Felipe 16 de abril de 2010 às 12:37  

Gostei...
Verdade, verdadeira.

Daniella 17 de abril de 2010 às 09:49  

Muito interessante, amazing!! Gosto de gente q trabalha divertindo e fazendo o bem para os outros. Beijos de uma fã!

Anônimo 17 de abril de 2010 às 13:00  

Pra que querer uma cópia?
O Autor é meu irmão /FATO /NEMMEACHO
MANO... AMO OC! PAZ!

Felipe Nogs 17 de abril de 2010 às 20:29  

De fato, nosso super herói é de verdade, e faz mais do que precisamos!
E mostrou neste texto, o quanto, realmente a imagem dEle está deturpada não?
Boa garoto

Nogs
On Demand4jesus

Anônimo 17 de abril de 2010 às 22:15  

A Paz do Senhor GG!!!

Eu acho que conheci a alguns anos um rapaz parecido com esse Lírio...

Unknown 18 de abril de 2010 às 22:15  

Muito bom, dou o maior apoio cara para que vc continue com a ficção. Eu durante alguns anos fiz isso também. Mas de uma hora para outra parei. Escrita é treino cara, nós dois sabemos disso.

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