A Luz Que Não Brilhou

Andar de ônibus todo dia tem lá seus momentos bons. Sejam pelas histórias que ouvimos, fatos que presenciamos ou pessoas que conhecemos. Conheço pessoas que "frequentam" o coletivo há décadas e não se cansam - talvez mais pela necessidade do que pelo prazer.

Eu, particularmente, viajo de ônibus quase todo dia há mais de dez anos - por pura necessidade, já que sempre trabalhei (ou estudei) em instituições bem longe de casa.

Dentre as tantas histórias que ouvi, no entanto, nenhuma me deixou tão desiludido e insatisfeito como esta que ouvi dia desses, voltando do trabalho:

Um professor que trabalhava em escolas públicas conversava com a mulher sentada ao seu lado. Ele, evangélico, dizia a ela como Deus era bom e misericordioso para com ele. 

Pelo que não consegui deixar de ouvir - confesso que mais por curiosidade que por qualquer outra coisa - o tal professor, religioso e diligente, foi designado pela prefeitura para dar aulas em um certo colégio situado em um local barra pesada. O tal homem desesperou-se, pois (e eu ouvi isso direitinho) ele seria um dos professores a lecionar para a turma onde estava o maior traficante do bairro.

Após alguns instantes falando do tal traficante, o professor, com sorriso e desdém, disse vitorioso à mulher ao seu lado: "Você nem acredita se eu te disser, mas orei para Deus tirar o rapaz da sala e Ele o tirou da escola! Não precisei enfrentá-lo! Deus não é bom?"

Ao ouvir isso, fiquei surpreso e pensativo. Para que servirá a luz, se preferirmos escondê-la ao invés de iluminar a escuridão? Se Jesus nos fez sal da terra, por que somos tão incompetentes na tarefa de temperar o mundo? O tal professor não queria brilhar ou simplesmente se sabia incapaz de fazê-lo? 

Já que julgar o professor não era o que eu queria fazer, as muitas dúvidas rodearam minha cabeça por horas a fio. 

O medo falou mais alto, ou foi a consciência de incapacidade? Será que ele sabia que nunca conseguiria ser luz naquela sala de aula, ou simplesmente não lembrou das palavras de Cristo (pelo menos as citadas em Mc 16.15)?

Como julgá-lo seria tarefa impossível de ser concluída com justiça, preferi abraçar as dúvidas, na esperança de um dia ouvir aquele mesmo homem dizer: "Lembra do traficante perigoso que saiu da escola? Orei para que ele voltasse, lhe contei do amor de Deus e ele agora é um cristão verdadeiro". 

Minha esperança ainda vive, pois ainda vejo pessoas que não deixam a luz se apagar, mesmo nas mais densas trevas ou nos vales mais sombrios. 

Da próxima vez que eu subir em um ônibus, vou lembrar de acender a luz.


by GG

6 comentários:

Rick Serrat 12 de abril de 2010 às 11:03  

Muito show esse texto! o gordo é poético!

Evang_Felipe 12 de abril de 2010 às 11:13  

Pra que serve a luz que não acende? Não ilumina a escuridão!!!
Texto que nos leva a refletir bastante.

Ronald Luis 12 de abril de 2010 às 11:55  

Mais um belo texto do GG...

Está se aperfeiçoando hein... Saiba que na internet sua luz está brilhando bastante e iluminando a minha vida e de tantos outros internautas!

GG 12 de abril de 2010 às 21:46  

Caraca... valeu, Ronald.
Emocionei.

Ira 13 de abril de 2010 às 09:10  

Tremendo..realmente é assim que muitas são, é facil pregar Jesus no pulpito já com Cristãos, mas vá la no meio dos que estão cativos..é nesse momento que descobrimos quem realmente esta disposto a amar em nome de Jesus.

Valeu GG

abçs

Celso 13 de abril de 2010 às 12:08  

Cara, isso me lembra muito algumas pessoas q dizem conhecer a Cristo e querem falar sobre de Cristo, mas falam pra quem tb já conhece. É muito facil vc falar da palavra pra quem ja é crente, mas pow, todos precisam conhecer a palavra, pq eu creio q assim como um dia ela me libertou ela tb pode libertar aquele traficante, mas infelizmente o medo e o preconceito tomaram conta dquele homem.

Ótima postagem, adorei.

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