Filmes que falam mais que os púlpitos (Episódio 002)

O texto abaixo foi publicado originalmente no Caverna do Jedi, onde regularmente escrevo sobre cinema (minha paixão incurável). Em tempos nos quais o conceito de "humanidade" se tornou tão obseleto e vulgar, "The Road" é um tapa na cara. 


Como vejo poucas vezes uma mensagem humanista e sincera sobre as paixões, medos, paranóias e preconceitos nos púlpitos, resolvi postá-lo aqui também, nesta coluna que há muito tempo não aparecia aqui no T-7.

*** * ***


Baseado no livro homônimo escrito por Cormac McCarthy, “A Estrada” (“The Road”) é um épico pós-apocalíptico irrepreensível.

Depois de uma catástrofe de proporções imensuráveis, o planeta está um caos – as belas paisagens se transformaram em um cenário de horror e desespero. 


Os homens já se renderam aos instintos mais cruéis de sobrevivência e “humanidade” é um conceito que já não existe, a não ser por um pai (Vigo Mortensen) que caminha errante com seu filho (Kodi Smit-McPhee), em uma jornada de sobrevivência poucas vezes ilustrada no cinema.

Antes que o filme atingisse seus 10 minutos, meus pensamentos e sentidos se aguçavam e meus olhos esqueceram-se do hábito (agora inútil) de piscar. A película dirigida por John Hillcoat (“The Proposition”) prende a atenção e nos conduz por um caminho de sensações intermináveis: medo, compaixão, pavor, piedade, surpresa e, talvez, admiração.

O elenco é formado por nomes conhecidos no cinema americano e outros nem tanto. Viggo Mortensen, Kodi Smit-McPhee, Charlize Theron, Guy Pearce, Robert Duvall e Garret Dillahunt brilham e estarrecem qualquer um que se diga admirador da sétima arte com suas atuações.

Com atuações impecáveis e roteiro primoroso – repleto de inquietações sobre o valor da vida e a fragilidade dos sentimentos quando expostos ao desespero inesperado -, The Road é delicado e gentil em sua proposta, que nada mais é que oferecer, em meio às mais terríveis barbaridades humanas e à mais deplorável condição de sobrevivência à qual alguém pode se submeter, resquícios da “humanidade” perdida depois de anos convivendo com a morte e o caos. Enquanto alguns aderem ao canibalismo e outras maldades para sobreviver, outros poucos defendem com a própria vida aquilo que ainda lhes resta. Em um mundo destruído pelo cataclisma ocorrido há alguns anos, porém pouco explicado durante o filme, o que resta ao homem e seu filho nada mais é do que um ao outro – e um sentimento que os move à continuar no caminho, ou melhor, na estrada: o amor.

Com pouquíssimas falas e um visual deprimente, A Estrada não deixa a desejar: é um drama para ninguém botar defeito. Cenas marcantes, atuações louváveis e tudo que um bom drama sonha ter: um final “com chave de ouro” – para coroar com honra a mensagem central do filme: apesar de tudo, a esperança ainda não acabou.
Emocionante sem ser piegas. Profundo. Delicado e surpreendente.

Eu, que (confesso) não esperava muita coisa deste filme, não pude resistir à um esboço de lágrimas que se formou ao final do filme, ou ao vendaval de emoções em meu peito que me fez ter a certeza de que o assistirei outras vezes.

Fantástico!


by GG

5 comentários:

Ronald Luis 29 de abril de 2010 às 10:48  

Fico feliz de ter lhe recomendado o filme, embora vc o fosse assistir indepedente de minha recomendação!

Também escrevi sobre o filme no www.renovoblog.blogspot.com

Segue post:
http://renovoblog.blogspot.com/2010/04/filme-estrada.html

GG 29 de abril de 2010 às 11:03  

Ronald, gente boa!

Li sua crítica sim, mas acho que assisti o filme antes de lê-la... pelo menos as críticas foram escritas no mesmo dia... quase no mesmo horário.

Escrevi a minha no dia 27, no Caverna do Jedi, às 21:30, mais ou menos. A sua ainda é anterior a minha... mas acho que li só depois de ver o filme.

Mas ta valendo. Até agora vc so indicou filmes bons mesmo. rsrs

Valeu, Ronald!


@gustavogui
T-7 Staff

Ira 29 de abril de 2010 às 13:31  

Filmasso!!

Anônimo 29 de abril de 2010 às 14:20  

Vou assistir então.
Valeu

Unknown 2 de maio de 2010 às 20:21  

Então,

Estou lendo o livro primeiro, para depois ver o filme.
O Cormac é um dos melhores escritores contemporâneos.

Abs,
William

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